sábado, 18 de junho de 2016

Gigante Bowl garante o sucesso do futebol americano no Brasil


Porto Alegre viveu uma noite histórica. O Estádio Beira-Rio presenciou um grande duelo, recheado de grandes jogadas e de fatos emocionantes. Um verdadeiro show de organização e também da torcida presente. Haverão aqueles que podem achar que estou falando de mais uma vitória do Internacional, quando na verdade, falo do Gigante Bowl, a decisão do Campeonato Gaúcho de Futebol Americano, vencida pelo Santa Maria Soldiers, que derrotou o Juventude FA por 21 a 3.

Quando comecei a acompanhar o futebol americano, lá por 2011, mal haviam algumas pessoas que entendiam o esporte. Conversar sobre, era ainda mais difícil. Foram vários os dias em que escrevia no Twitter ou no Facebook, e quase não tinha nenhum tipo de interação como resposta. Eram monólogos, com pequenas interrupções para uma resposta ou outra sobre algum jogo específico. Naqueles anos não tão distantes, imaginar a popularidade deste esporte tão incrível em nossas terras era difícil. Ganhar notoriedade dentro do Brasil então? Parecia impossível.

Aos poucos, a popularidade foi crescendo. A NFL foi ganhando audiência e hoje já somos o terceiro país que mais acompanha a liga, atrás do México e (obviamente) dos Estados Unidos. Mas ainda havia o descaso, a desconfiança. "Esse esporte não vai ser grande por aqui", "é muito violento, não tem como dar certo", "só é popular porque o marido da Gisele joga" ou "é uma moda, e logo já param de falar", eram alguns dos argumentos contrários. Foram muitas as vezes que ouvi opiniões assim, mas felizmente, todos estes tabus foram quebrados aos poucos.

Até que chegamos a este 18 de junho de 2016. O Campeonato Gaúcho alcançou neste ano a sua oitava edição, mas que foi a melhor de todas elas. Pela primeira vez, dez times participaram do torneio, divididos em duas conferências, com temporada regular, playoffs, e, claro, o Gigante Bowl, a grande decisão no Beira-Rio, realizada graças a parceria da Federação Gaúcha de Futebol Americano com o Internacional, que abraçou o esporte para sediar a grande final. A FGFA organizou um grande campeonato, digno de fazer inveja ao quase centenário Gauchão de futebol, que ultimamente deixa a desejar em vários aspectos, que não são o tema deste post. 

O Santa Maria Soldiers já tinha sido campeão outras duas vezes. Na atual temporada, perdeu apenas um jogo, e foi o campeão da Conferência Oeste. O Juventude era o atual campeão, e chegou invicto ao Gigante Bowl após vencer com sobras a Conferência Leste. 

A organização foi impecável. Antes do jogo, e no intervalo da partida, shows musicais animaram a torcida presente. Foram mais de 12 mil torcedores, público maior que a média de onze equipes que jogam o Brasileirão da Série A em 2016. Isso sem contar com a entrada das equipes, recebidas no gramado com show de luzes e fogos, lembrando a NFL. Só faltaram os aviões caças da Força Aérea Brasileira sobrevoando o Beira-Rio após o hino, mas isso fica para o ano que vem. Fica a dica.

Em campo, o que se viu foi um duelo de defesas fortes, e ataques precisos no jogo terrestre. Na primeira metade, o Santa Maria Soldiers garantiu um touchdown, sofreu um field goal, mas foi para o intervalo com a vantagem em 7 a 3. No segundo tempo, um fumble (quando um jogador perde o controle da bola) do Juventude FA fez o Soldiers ficar próximo da endzone, para anotar mais um touchdown. E no último quarto, outro TD fez a equipe da região central do Estado ampliar a vantagem para 21 a 3, e garantir o tricampeonato estadual. O MVP da partida foi o running back Guilherme Busanello, que anotou dois touchdowns terrestres.

O Gigante Bowl foi um sucesso. É um imenso orgulho ver que um esporte tão bacana garantiu um enorme prestígio por aqui. Posso dizer que vi o crescimento e a popularidade deste esporte aqui no Brasil. Jamais imaginei que, dois anos depois, um estádio da Copa do Mundo de 2014 abriria suas portas para o futebol americano. E não foi só um, como hoje mesmo teve a bola oval voando no Mineirão, e o recorde de público no Brasil foi na Arena Pantanal, em Cuiabá, em 2015. Que bom que paradigmas foram quebrados. Que bom que este esporte está crescendo. O sucesso do futebol americano no Brasil está acontecendo, e ainda há muito para melhorar, mas o mais importante, é que vai melhorar. 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Peyton Manning, você vai deixar saudades

Peyton Manning anunciou sua aposentadoria nesta segunda-feira (7)
Ainda não consegui me acostumar com o fim da carreira de Peyton Manning. Demorei um tempo para escrever, pois estava refletindo sobre como será a vida da NFL, e as dos fãs da liga, sem ter um de seus maiores jogadores. Deixará de jogar um dos melhores atletas de futebol americano de todos os tempos, e consequentemente, um dos meus maiores ídolos esportivos.

Afirmar que Peyton Manning foi o maior jogador de todos os tempos eu não posso, mas são muitas as estatísticas que ajudam a o colocar no patamar dos maiores atletas da história. Peyton é recordista em passes para touchdown, em jardas aéreas (o número de jardas alcançadas por passe), em número de vitórias como titular, foi 14 vezes selecionado para o Pro Bowl (o jogo das estrelas da liga), cinco vezes o MVP da temporada, e duas vezes campeão do Super Bowl, sendo o único quarterback a conquistar por dois times diferentes.

Manning foi o único quarterback a vencer dois Super Bowls por equipes diferentes (Colts em 2007 e Broncos em 2016)
Manning é um cara incrível. Admirado por todos dentro da liga, tanto pelos clubes em que defendeu (Indianapolis Colts, de 1998 à 2011, e Denver Broncos, de 2012 até fevereiro deste ano), quanto pelas equipes adversárias, que muitas vezes participaram de feitos históricos do atleta. Além disso, era um atleta genial, que sabia estudar as jogadas antes mesmo delas acontecerem, vendo onde as defesas adversárias estavam mais vulneráveis para que ele realizasse seus passes com qualidade, ou elaborando alguma jogada diferente, como uma corrida de um running back ou até mesmo dele próprio.

O que mais lamento na sua aposentadoria, é que comecei a ver a NFL já em seu final de carreira. Acompanho o futebol americano há apenas cinco anos, e imagino que seria incrível demais poder ter visto Peyton Manning atuando em alto nível. Felizmente o You Tube ajuda, com vídeos de atuações memoráveis dele. Mas ainda posso dizer que pelo menos pude acompanhar o final desta brilhante trajetória.

Mesmo assistindo à NFL há pouco tempo, consegui sim colocar Peyton Manning no hall dos meus atletas favoritos. Lamentei muito quando o Denver Broncos foi derrotado nos playoffs em 2013 e no Super Bowl em 2014, principalmente por causa do jogador. Mas como sabia que esta última temporada poderia ser sua despedida, comemorei ao ver chegando ao Super Bowl 50, mesmo tendo eliminado o New England Patriots um jogo antes, time este que escolhi torcer no futebol americano. Sua atuação contra o Carolina Panthers pode não ter sido das melhores, sem ter anotado nenhum touchdown, apenas uma conversão de dois pontos, mas pouco importa. O legado que Peyton Manning deixa para o esporte é muito maior que isso, e foi muito legal ter visto um dos maiores jogadores de futebol americano de todos os tempos ter encerrado sua carreira como campeão da NFL.

Nessas horas sou grato mais uma vez a ter aproveitado uma madrugada de insônia para descobrir e me apaixonar pelo futebol americano. Conhecer e vivenciar glórias de um atleta como Peyton Manning foi sensacional. Sou muito grato à este jogador. Vai demorar para me acostumar a ver o Denver Broncos sem o camisa 18 comandando o ataque, ou para ver um jogo entre Patriots x Broncos sem o aperto de mãos de Tom Brady e Peyton Manning. Mas a vida é feita de eras, e poderei dizer, com muito orgulho, que vi em campo um dos melhores jogadores de futebol americano.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O caminho para o Super Bowl: os playoffs da NFL vão começar



Falta um mês para terminar a temporada 2015/16 da NFL. Mas nem tudo é tão ruim assim. A partir deste final de semana (9 e 10 de janeiro), começam os playoffs, a fase de mata-mata da National Football League, o campeonato de futebol americano que a cada dia conquista mais fãs no Brasil. Serão dez jogos emocionantes até a definição de quem vai para San Francisco disputar o Super Bowl 50, que promete ser um dos maiores eventos esportivos deste ano que recém começou.

Após o término da temporada regular, 20 dos 32 times já encerraram seu ciclo, pois não garantiram a classificação para a sequência da liga. Por ser uma fase tão curta (16 jogos em 17 semanas), qualquer descuido pode ser fatal. Dos eliminados, alguns decepcionaram, seja por lesões envolvendo seus principais jogadores (como os casos do Dallas Cowboys e do Indianapolis Colts), seja por falhar em um momento decisivo (como o New York Jets, que perdeu a classificação na última semana), ou por incompetência administrativa, como exemplo do San Francisco 49ers, que teve uma das piores campanhas entre todas as equipes.

Os times são divididos em duas conferências, e dentro delas, existem quatro divisões regionais. Avançam para os playoffs os oito campeões de cada divisão, mais os dois melhores de cada conferência sem terem vencido alguma divisão na liga. Entre os 12 classificados, algumas franquias confirmaram seu favoritismo na temporada regular, como New England Patriots, Denver Broncos, Green Bay Packers, Arizona Cardinals, Carolina Panthers e Seattle Seahawks. Outras, surpreenderam de maneira impressionante, e chegam com força para a fase seguinte, como Kansas City Chiefs, Cincinnati Bengals e Minnesota Vikings. E tiveram também aqueles que se classificaram sem proporcionar façanhas tão grandiosas, mas que podem crescer nesta fase final e eliminar as grandes forças da liga, como Pittsburgh Steelers, Washington Redskins e Houston Texans. Uma destas 12 equipes levará o Troféu Vince Lombardi, na grande decisão, que será no domingo de Carnaval.

Todas as fases dos playoffs são decididas em jogo único, disputado na casa de quem teve melhor campanha (a exceção do Super Bowl, que é realizado em uma sede pré-definida). Uma vitória deixará a equipe mais próxima do título, mas uma derrota significa o início das férias forçadas. Na primeira fase da pós-temporada, chamada de Wildcard, os dois melhores de cada conferência não jogam, e estão automaticamente classificados para as semifinais de suas respectivas conferências, caso de Denver Broncos e New England Patriots (pela AFC, a Conferência Americana), e de Carolina Panthers e Arizona Cardinals (pela NFC, a Conferência Nacional). As demais oito franquias decidem seu futuro neste sábado e domingo. As quatro vencedoras enfrentam as equipes que folgam no Wildcard. Na sequência, ocorrem os Divisional Playoffs, com os semifinalistas de cada conferência, e a fase Conference Championship, com as decisões da AFC e da NFC. Quem vencer estes jogos, vai para o Super Bowl, o grande sonho de toda franquia da NFL.

Agora é o momento decisivo. Os playoffs da NFL são o que separam os pequenos dos gigantes. São enormes as expectativas por jogos incríveis, pois vimos uma temporada regular com grandes duelos, mesmo sendo entre as equipes menos expressivas, e que já não estão mais na disputa. Valerá a pena conferir cada instante do final da liga. São as últimas oportunidades para aproveitá-la intensamente, porque após o Carnaval, a NFL só volta em setembro.

Calendário dos playoffs da NFL. Todos os jogos serão transmitidos pela ESPN e pelo Esporte Interativo:

Wildcard

09/01
Houston Texans x Kansas City Chiefs (19h35)
Cincinnati Bengals x Pittsburgh Steelers (23h15)

10/01
Minnesota Vikings x Seattle Seahawks (16h05)
Washington Redskins x Green Bay Packers (19h40)

Divisional Playoffs

16/01
New England Patriots x Melhor classificado da AFC pelo Wildcard (19h35)
Arizona Cardinals x Melhor classificado da NFC pelo Wildcard (23h15)

17/01
Carolina Panthers x Pior classificado da NFC pelo Wildcard (16h05)
Denver Broncos x Pior classificado da AFC pelo Wildcard (19h40)

Conference Championships

24/01
Final da AFC (18h05)
Final da NFC (21h40)

Super Bowl 50

07/02
Campeão da NFC X Campeão da AFC (21h30)

sábado, 5 de dezembro de 2015

NFL conquista legião de fãs nas madrugadas brasileiras

Passe de Aaron Rodgers para Richard Rodgers deu a vitória ao Green Bay Packers na última jogada

São 2h40 da manhã, na madrugada de quinta para sexta-feira. Enquanto a maior parte da população brasileira está dormindo, milhares de fãs de um determinado esporte assistem apreensivos na televisão a jogada que irá colocar um ponto final em uma certa partida. O jogo é entre duas equipes americanas. Não tem nenhum brasileiro em campo. Mas mesmo assim, tem muitas pessoas interessadas em assistir a tal jogada, com o cronômetro já zerado, para ver o que vai acontecer após a bola oval lançada pelo quarterback Aaron Rodgers chegar ao alcance de algum jogador, companheiro de equipe ou adversário.

Ficar acordado até tarde para assistir ao futebol americano está sendo cada vez mais comum na vida de muitos brasileiros. O esporte já é transmitido há anos em nosso país, e a cada temporada da NFL, cresce ainda mais a audiência desta liga. Mas agora a dúvida, o que tem de tão especial esse esporte tão cheio de regras e termos ouvidos somente nesta modalidade? São vários fatores, mas vou citar dois deles em especial.
Passe decisivo de Aaron Rodgers foi de 61 jardas

Um deles é a imprevisibilidade. O jogo consiste em quatro períodos de 15 minutos, mas por conta das constantes paradas no relógio, cada partida dura em média três horas (isso sem contar quando vai para a prorrogação). Além disso, o cenário de cada duelo pode mudar a qualquer momento. Voltando ao jogo descrito acima, o Green Bay Packers teve nesta quinta-feira (3) uma péssima atuação nos dois primeiros quartos. Chegou a estar perdendo por 20 a 0 para o Detroit Lions, que também é um de seus maiores rivais. No terceiro período, o time liderado pelo quarterback Aaron Rodgers reagiu, garantindo três touchdowns em uma sequência de jogadas incomuns. Quando restavam poucos segundos para o final, o Lions ainda vencia, por 23 a 21, mas a bola era do Packers. O relógio zerou, porém uma falta do time de Detroit  rendeu uma última chance a equipe de Green Bay. Foi então que Aaron Rodgers lançou uma hail mary (passe muito alto, sendo a última tentativa de garantir o touchdown da vitória) para Richard Rodgers receber a bola dentro da endzone, garantindo a virada do Green Bay Packers por 27 a 23. É algo que raramente dá certo, e felizmente aconteceu, para trazer uma imensa alegria aos bravos guerreiros que assistiam ao jogo no auge da madrugada.

O caso do último Thursday Night Football é apenas um deles. Na última segunda-feira (30/11), o Cleveland Browns tinha um field goal para chutar na última jogada, para vencer o Baltimore Ravens, mas o kicker do time Travis Coons teve o chute bloqueado, e a bola acabou indo nas mãos de Will Hill III, que teve campo livre para correr para o touchdown que deu a vitória ao time de Baltimore. Estes dois jogos específicos foram apenas em um intervalo de quatro dias, isso sem contar outros duelos também emocionantes no decorrer desta atual temporada.

O outro fator de sucesso da NFL no Brasil é a capacidade das emissoras de nosso país em trazer uma transmissão leve e descontraída, mas ao mesmo tempo informativa. A ESPN e o Esporte Interativo exibem a liga de maneira impecável, aliando informação, emoção e humor, de acordo com cada momento da partida, além da interatividade que os canais possibilitam aos espectadores, que podem enviar mensagens aos narradores e comentaristas via Twitter. As transmissões nacionais da NFL, inclusive, já são bem destacadas no próprio site da liga, mostrando as emoções dos nossos narradores sempre que alguma jogada incrível acontece. Além disso, a cada dia cresce a cobertura nacional para a NFL. Já existem diversos sites e blogs especializados no esporte, além de programas de rádio, podcasts e colunas em importantes veículos.
Transmissões nacionais garantem espaço também no site da NFL

A temporada 2015 continua. Estamos apenas na semana 13 da temporada regular (de um total de 17, fora os playoffs em janeiro, e o Super Bowl em fevereiro), e ainda dá tempo de conferir a National Football League. É verdade que alguns jogos começam bem tarde, mas se o problema for o sono perdido, no domingo são realizadas várias partidas em horários mais acessíveis. Vale a pena dar uma conferida na liga, principalmente agora em que temporada do futebol "normal" está acabando. Quando você descobrir como é fantástica a NFL, até vai esquecer um pouco dos clichês que só são ditos por quem não gosta ou despreza a competição, como o "a liga onde joga o marido da..." ou "é a liga que tem aquele show na decisão". Ela vai muito além disso. Deem uma chance para a NFL!

Abaixo, uma sequência de links com narrações brasileiras de jogadas fantásticas da NFL 

Hail mary do Aaron Rodgers e touchdown da vitória do Green Bay Packers. Reprodução do lance pela ESPN e Esporte Interativo.

Recepção milagrosa de Odell Beckham Jr para o touchdown do New York Giants. Reprodução do Esporte Interativo.

"Me engravida Odell!" Narrador Rômulo Mendonça, da ESPN, comemorando outro touchdown mítico de Odell Beckham Jr.

Bloqueio de field goal para touchdown da vitória do Baltimore Ravens. Reprodução da ESPN.

E como torcedor do New England Patriots, não poderia faltar a brilhante narração do Everaldo Marques, da ESPN, na jogada do título do Super Bowl XLIX, em fevereiro de 2015.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Como foi o primeiro ano pós-7 a 1

Goleada alemã sobre o Brasil fez até o GC da FIFA criar uma barra de rolagem

Müller, Klose, Kroos, Kroos de novo, Khedira, Shürrle e novamente Shürrle. Esta sequência de nomes ainda persiste na memória de muita gente, ainda mais neste dia 8 de julho, data em que completa um ano do maior vexame da história da Seleção Brasileira, na derrota por 7 a 1 para a Alemanha, em plena semifinal da Copa do Mundo, jogando em casa. Os jogadores alemães que marcaram naquele dia não possuem nenhuma culpa no que aconteceu naquela tarde no Mineirão, mas aqueles sete gols mostraram que o futebol brasileiro não estava bem, apresentando a má qualidade da Seleção da pior maneira possível.

De todas as derrotas que aconteceram com a Seleção Brasileira, nenhuma delas ficou tanto na minha memória quanto esta para a Alemanha, que volta e meia surge em meus pensamentos. Até hoje, rever aquele jogo e aquela sequência de gols é inacreditável. Ao vivo, a partida foi de pleno terror, onde nenhum torcedor poderia fazer nada a não ser torcer para que os alemães fossem bonzinhos e parassem de marcar. Se bem que até dá para dizer que os adversários foram legais, pois no segundo tempo (com o duelo já em 5 a 0 para a Alemanha), o time que venceria a Copa do Mundo dias depois marcou apenas mais duas vezes, e ainda levou o gol de honra do Oscar. Se eles quisessem, poderiam ter aplicado uma goleada ainda maior que os 10 a 1 da Hungria em El Salvador em 82, placar este que é o recorde da maior goleada em Copas do Mundo.

O 7 a 1 ainda está vivo na memória de muita gente. Os alemães pararam de marcar contra a nossa defesa, mas o futebol brasileiro nada melhorou após aquela semifinal da Copa. Como dito em outros posts recentes neste blog, a Seleção pouco evoluiu. Com Dunga no comando, o Brasil venceu todos os amistosos até aqui. Mas na primeira competição após a Copa do Mundo, a Copa América, a Seleção apresentou um futebol de baixa qualidade, sem brilho, e foi eliminada nas quartas de final nos pênaltis para o Paraguai. A Seleção foi ao Chile com um time tão ruim, ou ainda pior, que o que jogou a última Copa do Mundo.

E o que a CBF fez depois deste vexame? Praticamente nada. A Seleção mudou seu técnico e alguns de seus jogadores, mas segue sem brilho e sem esperanças. E pior, a entidade segue com sua reputação comprometida. O ex-presidente José Maria Marin, inclusive, está preso, acusado de estar envolvido no escândalo da FIFA. Ricardo Teixeira, também ex-presidente e o atual, Marco Polo Del Nero, também estão sob investigação neste esquema.

Pouco se faz também para o futebol como um todo. Após a Copa, falava-se em um melhor desenvolvimento das equipes de base do Brasil, mas ficou só da boca para fora. É verdade que a Seleção Brasileira sub-20 foi vice-campeã mundial há pouco tempo, mas foi apenas um pequeno passo, considerando também o fato de que o time trocou de técnico já em preparação para a Copa do Mundo da categoria.

A goleada sofrida para a Alemanha sempre é lembrada também quando temos de assistir aos quase sempre terríveis jogos do Campeonato Brasileiro. São raras as oportunidades em que os estádios estão lotados ou quando acontece um jogo emocionante e equilibrado. Além disso, a arbitragem faz de tudo para estragar grande parte dos jogos, atuando na maioria das vezes de forma imparcial, ou seja, prejudicando mandante e visitante com erros grotescos em diversas partidas.


Após 365 dias da histórica goleada, pouca coisa mudou para evitar que a Seleção Brasileira caia em desgraça. Não só o time do Dunga, mas também o futebol brasileiro precisa ter uma reestruturação melhor. A marca dos 7 a 1 jamais será apagada, mas não se pode deixar as coisas como está. Se continuar assim, o futebol brasileiro seguirá como piada mundial, e correrá o risco de passar por vexames tão terríveis quanto a derrota para os alemães.

sábado, 4 de julho de 2015

Passado, presente e futuro unidos: a conquista chilena da Copa América



De todos os estádios de futebol do mundo, talvez nenhum deles conta com histórias tão emblemáticas quanto o Estádio Nacional de Santiago, na capital do Chile. Inaugurado em 1938, o principal estádio chileno foi, inclusive, sede da final da Copa do Mundo de 1962, quando o Brasil se tornou bicampeão mundial, derrotando a Tchecoslováquia. Mas este local também teve um de seus momentos mais terríveis na ditadura de Augusto Pinochet, iniciada em 1973. O Estádio Nacional se tornou uma grande prisão assim que foi iniciado o golpe, onde milhares de chilenos foram presos, torturados e mortos no local, por apenas serem contrários a um dos piores regimes militares vividos na América do Sul, e que durou até 1989.

Parte do Estádio Nacional que resgata as memórias da ditadura de Pinochet

Passados 42 anos do início daquela ditadura, o mesmo Estádio Nacional vivenciou a maior glória da história do futebol chileno. O primeiro título da Copa América conquistado pelo Chile pode ser considerado uma libertação do palco da decisão contra a Argentina. Estádio este que foi palco de horror para milhares de pessoas, e que hoje presenciou um momento mágico da melhor seleção chilena de todos os tempos.

O time treinado por Jorge Sampaoli foi quem apresentou o melhor futebol em toda esta edição da Copa América. A equipe fez todos os seus jogos apresentando uma boa qualidade tática, com um poder de ataque perigosíssimo que atormentou as defesas de todas as equipes que enfrentou. Além disso, os jogadores eram muito unidos, em que cada atleta conseguiu ser uma peça importante na ajuda desta conquista histórica.


Nesta decisão, contra a Argentina, o Chile também apresentou melhor futebol. No papel, os argentinos eram melhores, liderados por jogadores como Messi, Mascherano, Agüero e Di Maria. Só que no tempo normal e na prorrogação, o time de Vidal, Alexis Sanchez, Valdívia, Aránguiz e Vargas jogou melhor, podendo ter decidido o jogo em diversas oportunidades, que acabaram com a bola não entrando no gol de Romero. Foi necessário passar pelo drama da decisão por pênaltis para que os chilenos comemorassem o tão esperado título. Messi foi o único que acertou para os argentinos. Higuaín isolou e o goleiro Bravo defendeu o pênalti de Banega. Pelo Chile, Matías Fernandez, Vidal, Aránguiz e Alexis Sanchez marcaram em suas cobranças, garantindo assim o título do continente.

Poderia ser apenas mais uma decisão qualquer, se esta não viesse recheada de tanta história. A conquista da Copa América demonstra um novo marco para o Chile, premiando uma equipe que jogou muito bem na última Copa do Mundo, mesmo sendo eliminada tão precocemente, caindo nas oitavas de final. O Estádio Nacional de Santiago, que já sofreu tantas dores e tanta tristeza, presenciou o momento mais feliz de todo o futebol chileno. O local onde se faz questão de lembrar que "um povo sem memória é um povo sem futuro", agora apresenta um novo capítulo em sua história, o capítulo que encerrou com a merecida primeira conquista da história da seleção do Chile.

sábado, 27 de junho de 2015

7 a 1 não foi pouco: foi o começo



É setembro de 2017. O Brasil vai ir até La Paz enfrentar a Bolívia e a altitude. A situação é complicada, pois ganhar dos bolivianos fora de casa sempre é uma tarefa difícil. A Seleção precisa vencer para seguir com chances de disputar a Copa do Mundo de 2018. Um empate ou uma derrota custaria uma inédita desclassificação brasileira da maior competição de futebol do mundo, antes mesmo dela começar.

Este início de texto foi mera ficção, mas pode virar realidade. A derrota de hoje, nos pênaltis, para o Paraguai, evidencia que a goleada sofrida pela Alemanha por 7 a 1 na última Copa foi apenas o começo de uma fase nebulosa que vive o futebol brasileiro atual, e apresenta o que pode acontecer nos próximos anos. A frase "7 a 1 foi pouco", tão dita por milhões de pessoas após aquela derrota no Mineirão, demonstra que o Brasil não aprendeu nada após o maior vexame de sua história no futebol, e que nada foi feito para melhorar tal situação.

Dunga assumiu o time no lugar de Felipão. Seu retrospecto inicial foi perfeito. Dez vitórias em dez amistosos, vencendo inclusive duas seleções campeãs do mundo, como Argentina e França. Só que nestes jogos, já era possível identificar que algo não estava bem. O Brasil vencia mas não encantava, jogando um futebol pragmático, arriscando sempre na jogada aérea, e com a Seleção sempre dependendo do Neymar para conseguir criar alguma coisa.

Então veio a Copa América, o primeiro grande teste do time de Dunga. A impressão que deu foi que o time que jogou no Chile fosse tão ruim ou pior do que a Seleção da Copa de 2014. Jogadores da China, do futebol árabe e da Ucrânia serviram como base para a equipe titular, algo terrível para quem viveu a época em que a base do Brasil era a do Milan campeão europeu de 2003, ou da Inter campeã da Europa em 2010. Nos dois primeiros jogos, contra Peru e Colômbia, a "Neymardependência"ficou ainda mais evidente. Contra os peruanos, a Seleção só venceu por 2 a 1 graças a um gol de Neymar, e um passe do camisa 10 para Douglas Costa concluir, isso já no final do jogo. Na derrota para a Colômbia (a primeira pós-Copa do Mundo), Neymar foi muito bem marcado, mas perdeu a cabeça ao criar uma confusão ao final da partida, foi expulso e suspenso do restante da competição.

A situação ficou crítica. Contra a Venezuela, o Brasil quase sofreu o empate após começar ganhando de 2 a 0, lembrando que os venezuelanos já chegaram a perder por 7 a 0 para a Seleção em outras épocas. A eliminação para o Paraguai foi o ápice para culminar a depressiva campanha brasileira na Copa América, com derrota nos pênaltis para uma equipe que sequer jogou a última Copa do Mundo, ficando em último nas Eliminatórias.

O problema maior é que o Brasil passou por mais um vexame e na entrevista coletiva, Dunga ainda culpou uma virose de alguns jogadores para o mal desempenho da Seleção, não assumindo a culpa de que o time jogou mal. Vexames históricos do Brasil são sempre explicados por motivos que não envolvem a partida, como que se fosse um crime admitir que a Seleção jogou mal e mereceu ser eliminada. É a água batizada, é a convulsão de Ronaldo, é o Roberto Carlos ajeitando a meia, é o Felipe Melo sendo violento, é o Thiago Silva chorando, é a virose, entre outras desculpas. A culpa sempre é destinada a um episódio ou a um jogador, como uma tentativa de não atestar incompetência do técnico e do time pelos maus resultados.

E não, não estou isentando de culpa os dirigentes da CBF. O futebol brasileiro está como está graças a eles. Teixeira, Marin, Del Nero e tantos outros se dedicaram nos últimos anos a receber propina de países candidatos a sediar outras Copas do Mundo, e na realização de amistosos da Seleção longe de casa. Enquanto isso o futebol em nosso país segue terrível, com uma Seleção de raros bons talentos, sem tática e sem qualidade coletiva. Dentro de casa, nossos campeonatos definham em jogos ruins, de baixo público, e com arbitragem irregular em quase todas as partidas.

Espero profundamente que o futebol do Brasil não fique como está, muito menos que piore. A Seleção precisa reconhecer que não é mais a melhor do mundo, para que jogue com humildade e saiba fazer melhor o jogo coletivo. É necessário que técnicos, jogadores e demais profissionais que se dedicam ao futebol, que façam uma reciclagem e comecem a estudar melhor o jogo, para que, não somente a Seleção Brasileira, mas que o futebol brasileiro como um todo possa vir a ter dias melhores. E, principalmente, que a CBF, que manda na Seleção e nos nossos campeonatos, seja menos corrupta, e passe a trabalhar para um desenvolvimento melhor do esporte em nosso país. O 7 a 1 precisa ser tratado como uma lição para dar a volta por cima, e não ser o começo para que tragédias maiores ocorram com o Brasil.